quinta-feira, janeiro 15, 2009

NOSTALGIA

Testemunho de um amigo

O Guarda Fiscal sempre atento ao rio, quer de dia, quer de noite...
A Estátua perpectua-lo-á e a nossa memória também...



" Lembro-me que estávamos nas férias do Natal e fomos convidados para um “bailarico” em Sanlucar.
O problema era que a autorização era bem difícil… E agora???.
Vamos ser criativos.
O Chico Balbino deixa o barco no “cais velho”, mesmo a jeito.
Era o Antonico “Guarda Rio”, o Amílcar “Felício”, o Arnaldo, o António do Rosário, o Zé Serafim e mais alguns que agora não recordo.
Juntámo-nos na “capela”, mas havia uma “tertúlia” debaixo do lampião junto das escadas de acesso ao cais que, reunia o Sargento, o soldado da Guarda Fiscal de serviço e mais algumas pessoas.
O tempo passava, e nada.
Vamos entrar em acção. Dois vão buscar o barco e os outros vão para a “boca da ribeira”.
Lá vai o Amílcar e o Zé Serafim descer da “capela” e rastejar no cais velho para não serem vistos, remar à “contrabandista” e lá vamos nós subindo o rio para não entrarmos na zona de reflexo.
Naturalmente em Sanlucar divertimo-nos imenso com aquilo que só eles sabem fazer. Uma guitarra, uma pandeireta, umas castanholas, e “chicas guapas” com amizade, simpatia e “salero”.
No retorno, fazendo o mesmo trajecto, e quando estávamos junto da boca da ribeira, fomos surpreendidos pelo Guarda Fiscal, de arma apontada, intimando -nos a ir imediatamente para terra.
Grande atrapalhação com consequência desastrosa. Ficámos encalhados no cascalho da ribeira. E agora???
Com os remos, empurra daqui, empurra do outro lado e nada. Solução???
Alguém tem de ir à água… E com um frio de rachar.
Enfim lá surge um voluntário e o problema é resolvido.
E o Guarda Fiscal???
Era um assunto grave. Todos tínhamos de ser presentes ao Sargento no dia seguinte etc. e tal.
Depois de muita argumentação, de que nada tinha acontecido de mal, por fim
lá fomos mandados em paz, com o compromisso de que nada se soubesse.
E assim aconteceu.
Até agora..."


Obrigado por mais este testemunho de outros tempos...
Nesta aventura as miudas não participavam porque os tempos eram outros e, "à escapadela", não podia ser!!!

terça-feira, janeiro 13, 2009

A CASUARINA da minha terra.

Esta magestosa e imponente Casuarina (Casuarina Cunninghamiana MIQ.) encontra-se à beira do Rio Guadiana em Alcoutim e foi classificada como Árvore de Interesse Público, em Diário da República de 29/03/1999.Sempre a conheci assim, enorme...imponente!!!

Testemunhou a azáfama diária das gentes da terra... Viu o Guadiana sair do seu leito e beijar-lhe a copa... Deu sombra às brincadeiras da nossa infância e foi conivente c'os namoricos da nossa adolescência... Assistiu aos nossos bailaricos no cais e às nossas festas... Viu os jovens partir para a guerra e também para a cidade, em busca de melhor vida... Foi cúmplice do amor que existe entre Alcoutim e Sanlucar, de como se miram e espelham nas águas do rio na terna esperança de se enlaçarem,um dia...
Como o tempo passa!
Ela continua linda, viçosa e nós vamos perdendo o brilho... no entanto, quem tem mais de 80 anos é ela!!!
PATRIMONIO NATURAL A PRESERVAR...
As ruas das Aldeias, Vilas e Cidades da nossa terra são bem mais lindas
se de árvores se enfeitam...

domingo, janeiro 04, 2009

OS NATAIS DA MINHA INFÂNCIA

Eram o NATAL, na sua verdadeira essência...
O jantar naquela noite era melhorado, mas nada dos exageros que vivemos hoje, em que os excessos dão para quase uma semana...
As prendas eram poucas... mas consolavam, consolavam...
Não havia Pai Natal, nem renas, nem eu sabia onde era a Finlândia, a Noruega, ou o Pólo Norte...
Sabia da existência de um Menino Jesus que nascera em Belém, lá na Judeia - uma terra que não sabia ainda onde ficava, só que era lá no Extremo Oriente... Sabia que, nesse país, fazia muito frio e caía muita neve. Que esse Menino Deus não era rico e a sua primeira caminha tinha sido uma manjedoura onde o bafo da vaquinha e do burrico o mantinham quente.
Na Igreja Matriz, no início do mês, ajudávamos o Sr Padre a fazer o presépio, indo ao campo recolher musgo, porque nos Invernos chovia bastante e os campos estavam verdinhos e o musgo crescia por ali... Também por essa altura semeávamos as nossas searas de trigo , nas caixinhas vazias da margarina e da marmelada, para colocarmos depois no presépio, chegada a hora.
Nessa noite fria de 24 de Dezembro, à meia-noite, toda a comunidade se vestia a rigor e ía à Missa do Galo. O Presépio estava lindo!...A água corria da fonte, a azenha não parava, as velas giravam e até as ovelhinhas de barro, os pastors, os Reis Magos, as lavadeiras, pareciam mexer-se... A Virgem Maria, o São José e o Menino... Era um Menino Jesus muito lindo, de olhos castanhos brilhantes!...Castanhos, como os meus, pensava eu a cada ano... A dada altura, o Sr Padre convidava-nos a beijar o pé ao Menino... e nós lá íamos, adorar aquele Menino Jesus que era filho de Deus e escolhera nascer naquele lugar... tão pobre!!!
Era este menino, e eu não sabia bem como, que fazia com que eu tivesse, na manhã seguinte, os presentes no meu sapatinho ... Só no Dia de Natal é que eu os recebia ...Depois de uma noite mal dormida, mas plena de sonhos...levantava-me cedíssimo e corria para a cozinha. Não vivi aquele ritual dos grandes embrulhos em lindos papéis, nem dos grandes laços brilhantes e coloridos, porque tudo era de grande simplicidade. Na minha terra não havia nada disso. O encanto não estava no aparato dos presentes visto aos olhos, mas no pulsar acelerado do meu coração pequenino...
Estes presentes, eram sempre algo que eu andava a precisar... Nada chegava por acaso. O Menino sabia sempre...ou uns sapatos de verniz, ou uma roupa nova e, sempre, um pequeno brinquedo e algo para a escola. Estes brinquedos, simples como todos os brinquedos eram naquela época eram por mim tão apreciados que até me lembro de dormir com eles... Como nós valorizávamos cada coisa, por mais simples que ela fosse.

Hoje...é tudo tão diferente!...
A cada ano, eu digo que não alimento mais estes consumismos mas, lá vou dando sempre o dito por não dito...