quarta-feira, março 03, 2010

Ao meu PAI


Foi em Março que partiste,
num dia triste
que nunca esqueço.
Deixaste o vazio
que deixam os pais quando partem.
Deixaste uma dor imensa
no meu coração de filha
que menina queria ser
para, de novo, te ter...

O tempo passa, Pai ...
Vem outro ano, chega outro Março

e eu, só queria poder abraçar-te...
apagar velas, beber champanhe
e festejar contigo
a vida que me deste.


Ironia do Destino...

No meu dia, falta-me agora o teu sorriso
e, nesta data, levo-te rosas em vez de beijos...
Como é grande e imensurável
a falta que tu me fazes!...
Estarás no Céu, certamente,
mas a Saudade ficou
no meu coração
ETERNAMENTE!...


..%%..
FOTO:
O meu Pai, o meu irmão e eu.
Teria os meus 9 anitos.
Esta foto foi tirada junto da Igreja Matriz em Alcoutim.
Reviver é viver duas vezes... diz-se!...

terça-feira, março 02, 2010

Como eu vivia as cheias do Guadiana...

Sempre senti um carinho muito especial pelo meu rio. Há dias passei por ele em Badajoz e não pude deixar de pensar que, apesar de o País ser outro, ele continua a ser um pouco meu... onde quer que com ele me cruze.
Os romanos chamaram-lhe Anas ao que os árabes juntaram uádi (a palavra árabe para rio) sendo então o Úadi Ana, abreviado para Ouadiana, depois Odiana e mais tarde Guadiana. Foi este importante curso de água o eixo do al Gharb al Andalus, que em árabe quer dizer o ocidente da Hispânia englobando, grosso modo, a Andaluzia hoje na Espanha e os nossos Alentejo e Algarve.
Estas 2 fotos são muito antigas, terão mais de 40 anos. Fazem parte do espólio de muitos negativos que o meu pai guardou nas suas gavetas e que guardo agora num CD.
Naquele tempo, o Guadiana mostrava-se assim... um rio calmo que corria tranquilamente pelos campos fora. Havia em Alcoutim alguns barcos de pesca, era via de comunicação e servia de fronteira. Tambem era morada de algumas famílias de pescadores, recordo-me de algumas familias que viviam nos barcos...


De vez em quando chovia bastante e, ele enchia, enchia... tapava o cais e subia. Beijava os pés da Casuarina, inundava-lhe o espaço e, algumas vezes que me lembre, empoleirou-se-lhe na copa.
Lembro-me de uma vez em que chegou aos degraus da minha casa (onde é hoje o minimercado), inundando também os degraus da minha Escola e a Capela de Sto António - minha vizinhança da frente...
A aflição dos nossos pais era enorme com o rio a subir, a subir...
Depois de algumas horas de angústia e de muitas orações também, as águas começavam a baixar. Os resíduos que ficavam - muitos galhos, canas e muita lama eram uma maravilha para nós. Calçávamos as botas de borracha pretas (hoje galochas coloridas, coisa bem mais chique), a miudagem divertia-se à grande porque até ser tudo removido, esperavam que a lama secasse, aquele era o centro das nossas brincadeiras. as nossas mães zangavam-se, a roupa ficava enlameada e os pés dentro das botas ficavam malcheirosos, brancos e franzidos...

Por me lembrar sempre disso, nunca comprei dessas botas aos meus filhos. Certo dia, já a minha filha era mulher, estávamos a ver uma montra onde estavam expostos vários pares de galochas coloridas. Com um ar nostálgico, disse-me que sempre guardara alguma mágoa por eu nunca lhe ter comprado umas, já que todas as amigas tinham... Tive uma vontade enorme de lhas comprar, mas agora era tarde.
Tinha passado aquele sonho de menina...