Eram o NATAL, na sua verdadeira essência...
O jantar naquela noite era melhorado, mas nada dos exageros que vivemos hoje, em que os excessos dão para quase uma semana...
As prendas eram poucas... mas consolavam, consolavam...
Não havia Pai Natal, nem renas, nem eu sabia onde era a Finlândia, a Noruega, ou o Pólo Norte...
Sabia da existência de um Menino Jesus que nascera em Belém, lá na Judeia - uma terra que não sabia ainda onde ficava, só que era lá no Extremo Oriente... Sabia que, nesse país, fazia muito frio e caía muita neve. Que esse Menino Deus não era rico e a sua primeira caminha tinha sido uma manjedoura onde o bafo da vaquinha e do burrico o mantinham quente.
Na Igreja Matriz, no início do mês, ajudávamos o Sr Padre a fazer o presépio, indo ao campo recolher musgo, porque nos Invernos chovia bastante e os campos estavam verdinhos e o musgo crescia por ali... Também por essa altura semeávamos as nossas searas de trigo , nas caixinhas vazias da margarina e da marmelada, para colocarmos depois no presépio, chegada a hora.
Nessa noite fria de 24 de Dezembro, à meia-noite, toda a comunidade se vestia a rigor e ía à Missa do Galo. O Presépio estava lindo!...A água corria da fonte, a azenha não parava, as velas giravam e até as ovelhinhas de barro, os pastors, os Reis Magos, as lavadeiras, pareciam mexer-se... A Virgem Maria, o São José e o Menino... Era um Menino Jesus muito lindo, de olhos castanhos brilhantes!...Castanhos, como os meus, pensava eu a cada ano... A dada altura, o Sr Padre convidava-nos a beijar o pé ao Menino... e nós lá íamos, adorar aquele Menino Jesus que era filho de Deus e escolhera nascer naquele lugar... tão pobre!!!
Era este menino, e eu não sabia bem como, que fazia com que eu tivesse, na manhã seguinte, os presentes no meu sapatinho ... Só no Dia de Natal é que eu os recebia ...Depois de uma noite mal dormida, mas plena de sonhos...levantava-me cedíssimo e corria para a cozinha. Não vivi aquele ritual dos grandes embrulhos em lindos papéis, nem dos grandes laços brilhantes e coloridos, porque tudo era de grande simplicidade. Na minha terra não havia nada disso. O encanto não estava no aparato dos presentes visto aos olhos, mas no pulsar acelerado do meu coração pequenino...
Estes presentes, eram sempre algo que eu andava a precisar... Nada chegava por acaso. O Menino sabia sempre...ou uns sapatos de verniz, ou uma roupa nova e, sempre, um pequeno brinquedo e algo para a escola. Estes brinquedos, simples como todos os brinquedos eram naquela época eram por mim tão apreciados que até me lembro de dormir com eles... Como nós valorizávamos cada coisa, por mais simples que ela fosse.
Hoje...é tudo tão diferente!...
A cada ano, eu digo que não alimento mais estes consumismos mas, lá vou dando sempre o dito por não dito...
1 comentário:
gostei imenso...
natal, natal já foi esquecido...
tenho algumas semelhanças com o que li...
mais uma vez, gostei
bom natal e feliz ano novo! de verdade....
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