segunda-feira, outubro 31, 2016

Papas de milho ... ou xerém.

Xerém com mel ou com conquilhas, qual preferem?... 

Como sou serrana aprendi a comê-las com mel. Tínhamo-lo com fartura, que a serra o dava. 
O milho era milho... e as papas eram de milho. Depois vim aconhecer-lhe outros nomes, quando me instalei no litoral. Diziam-me que, com mel, nunca haviam comido e estranharam. Diziam-me que com "grizéus" é que eram excelentes e com conquilhas divinais... 
Provei, estranhei, mas vim a gostar e, sim, como-as desde então, mas nunca suplantararão, nas minhas papilas gustativas, o gostinho do mel serrano, porque são ainda os sabores da minha infância, que me fazem crescer água na boca...
E foi assim, partilhando sabores da serra e do mar fomo-nos habituando e enriquecendo o cardápio familiar.
Mel... 
Mel do nordeste... mel que o meu filho me traz produzido pelas suas abelhinhas nordestinas ... mel lá das terras dos seus antepassados, mel com sabor do nosso rosmaninho. E ,porque vem do que é nosso, tem ainda mais encanto...
Xerém, como se diz no litoral... Papas de milho, como se diz lá na serra... o meu jantar de hoje.
Papas de Milho com Mel de Rosmaninho ou Xerém com Mel, nomeiem como preferirem.
Falta-lhe a cor, é verdade que até o milho anda pálido... e já não o há como antigamente.


domingo, setembro 25, 2016

Conversas à fogueira





Ainda me recordo dos serões, à lareira, em casa dos meus avós maternos. O meu avô Palma era um exímio contador de historias tradicionais e inventadas, mas nem por isso menos lindas. As conversas eram sempre animadas... era a família, os moirais e os almocreves... e, por vezes tb o sapateiro que uma vez por ano lá passava, uns tempos, a fazer sapatos para o pessoal, ou até o cardador ... Era assim, há 50 anos...uma casa animada, cheia de vida.
Não tínhamos nem TVs, nem Ipads, nem Iphones, nem PCs... mas só ganhámos com isso, porque tínhamos outras coisas que não custavam dinheiro, mas não tinham preço... 

É provável que contar e ouvir histórias pela noite dentro tenha contribuído para a imaginação e empatia dos primeiros humanos e que as conversas à fogueira tenham mesmo estimulado a evolução das nossas capacidades cognitivas, sociais e culturais.
 À noite, as pessoas descontraíam, acalmavam e procuravam entretenimento. Era um momento universal para formar laços, difundir informação social, para se entreter e partilhar emoções. 

 Agora, o trabalho e o lazer, estendem-se pela noite dentro, em casa, em frente a um computador. Os avós nos lares, os pais sem tempo, os filhos sem paciência...
 O que acontecerá às relações?!... 

O Fiat Necker do meu pai / 1965

Descobertas, que eu adoro, vindas lá do fundo do baú.
Esta foto é de 1965, à porta da casa dos meus pais.
- A velhinha camioneta da Rodoviária que vinha de Beja, passava a Alcoutim e seguia para Vila Real de Sto António... seriam 10 horas da manhã, esse era o horário da chegada a Alcoutim.
- O giraço do carro do meu pai... um Fiat Necker, de cor beje e capota castanha. O meu pai vendeu-o ao Guarda Fiscal Sr António José Galrito e o filho diz-me que está velhinho, mas ainda existe... Que fixe!!!
Os cestos e canastras, no tejadilho "da camioneta", ninguém lhe chamava autocarro..., íam cheios de produtos que a terra dava... rumo ao litoral, para onde tinham migrado os filhos... em busca de melhores condições de vida.
Estas encomendas, cestos e canastras, eram despachadas na casa dos meus pais, que eram tb agentes da Rodoviária. Os cestos tinham a respectiva tampa, mas às canastras, sem tampa, era cosida uma "tampa" de serrapilheira, com uma agulha enorme e curva...
Mais tarde regressavam vazios... para depois voltarem a ir cheios...
Era assim, na década de 60...

 Foto a cores, muito rara nessa época. Foi obtida pelo Dr. Eckart Frischmuth, jovem alemão, que nessa data estava em Alcoutim, fazendo um trabalho de geología para apresentação da sua tese de doutoramento. Faz parte de uma colecção de "slides", que só muito recentemente foi convertida para digital./ José Serafim.

quarta-feira, setembro 14, 2016

ALCARIA ALTA - um monte nointerior algarvio.

Tenho uma vontade enorme de abalar para o nordeste, e ficar lá uma temporada, agora que me chegou às narinas o cheirinho da terra molhada...
A casa humilde dos meus avós paternos, bem lá no alto e com uma vista fantástica, fica no Castelo. O Castelo é um dos "bairros" do Monte.
São 7... como as colinas de Lisboa: o Castelo, a Praça, a Ponta do Monte, o Reguengo, o Além, o Rossio e a Portelinha.
A Casa do Monte é um espaço quentinho no Inverno, mercê da lareira que aconchega... e fresco no Verão, porque há sempre uma brisa, um ventinho suave soprando em volta.
Só se ouvem os pássaros, o zumbido dos insectos, vozes distantes, um latido ou um miado e o barulho suave dos aviões que passam lá no alto, na sua rota para as Américas.
De lá, os nossos olhos abarcam uma imensidão, quando é dia... e perdem-se na observação de miríades de astros, quando é noite... Acontece-me adormecer no poial exterior, contemplando o Céu e recordando as histórias que ouvi, em menina, à luz da lua e das estrelas.
Foi lá que recebi os primeiros ensinamentos sobre os astros e aprendi a descobrir as Constelações... Ursa Maior, Ursa Menor, Cassiopeia, Orion... ainda hoje as procuro e falo com elas, como me ensinou o meu tio Vanderdil.

Tudo é gratificante.
Avivam-se as lembranças, e também os sentidos, no recordar do cheirinho do pão acabado de fazer... na visão das sardinhas alinhadas, pela minha avó, no tabuleiro saído do forno comunitário, no degustar divinal dos figos da Índia que sempre me aguardam, apesar de estarem já muito maduros em Setembro... nas alfarrobas que eu "roubava" das manjedouras, já meio comidas pelos animais, mas que me sabiam tão bem e que agora apanho da árvore e me regalo com aquele sabor docinho, nos meus passeios matinais, nas fragrâncias que a Mãe-Terra me oferece.
Estou a ultimar-me... quase, quase a abalar... Se alguém quiser uns dias de sossego... e algum trabalhinho também, faça favor!... Há alfarrobas e amêndoas para apanhar... e figos da ìndia para degustar.
Agora que já não pode calcorrear pelas ruelas do Monte, e tudo lhe traz saudades de tempos de felicidade que se foram, nem sempre a minha Mãe me quer acompanhar, mas vou tentar que desfrute o melhor possível aquele sossego, desta vez faço mesmo questão que se entusiasme também e me diga que sim... que vai.

sexta-feira, agosto 19, 2016

DIA MUNDIAL da FOTOGRAFIA

Hoje é DIA MUNDIAL da FOTOGRAFIA
Graças ao gosto que o meu pai sempre teve pela fotografia, aprendi muito cedo a magia do surgimento da minha cara no papel...
Divertia-me imenso. Aquele pequeno laboratório, lá de casa, fez as delícias da minha infância.
Adorava ajudar o meu pai. Primeiro fechávamos todas as janelas e portas. Nada de luz podia entrar. O ideal será de noite, dizia-me ele, mas eu preferia que fosse de dia, porque de noite estaria a dormir.
Para começar tínhamos alguns reservatórios com produtos químicos que o meu pai colocava, em sequência, em cima da bancada. O primeiro era o revelador, para mim o super mágico... era este químico que fazia aparecer a imagem que, de início, mal se via. O meu pai ía banhando suavemente e fazendo dançar para um e outro lado, o papel e, quando a imagem estava como ele queria, rápidamente, antes que escurecesse muito e ficasse preta, o meu pai mergulhava a foto no reservatório seguinte, que continha outro químico diferente. Este segundo tinha a capacidade de interromper a revelação da fotografia. Caso isso não fosse feito, o revelador continuava agindo até escurecer a fotografia por completo. O primeiro era uma solução alcalina, o segundo era um ácido para interromper o processo. Poderia ser vinagre, dizia o meu pai... mas acho que não era. Não guardo o cheiro do vinagre, naquela empreitada toda. Era outro qualquer de que não retive o nome.
Havia um terceiro reservatório com um fixador que retirava os vestígios dos cristais de prata dos químicos anteriores e, por ultimo, a lavagem.
Quando nos aproximávamos desta etapa, eu... sempre de pé... enchia o peito de ar e esperava, impacientemente, que o meu pai mergulhasse a foto no "meu" reservatório. Era o que continha a água... Era só aqui que eu entrava, esta etapa final era a minha função. O meu pai costumava dizer-me, para me animar, que o meu líquido era tão importante como os outros, mas nunca me convenceu... Como?... se o meu líquido era água e saía ali da torneira da cozinha e os outros vinham em frascos e eram comprados, em Beja?...
Mas continuando...
Com a foto mergulhada na água, e eu radiante, fazia-a andar de um lado ao outro, passava-lhe os dedos por cima e sentia-os escorregar... depois de algum tempo, de enlevo, de alegria e felicidade..."acariciando-a e mimando-a" de coração cheio, deliciando-me com aquilo...
O meu pai que, entretanto, já iniciara com outra foto as etapas antecedentes e estava "quase a chegar"... dizia-me: agora já chega de banho, já podes pendurá-la...
Aí eu levantava-me, pegava numa mola de roupa e, colocava-a presa pelo canto, numa corda que tínhamos, antecipadamente, preparado para o efeito.
Aquela imagem das fotos penduradas, ainda perdura em mim.
De entre todas, as que me passaram pelos deditos, a que mais gosto é desta...
Estas palavras são uma homenagem ao meu Pai, o primeiro fotógrafo/mágico que conheci... e que me ensinou tanto, tanto do que hoje sei e as minhas memórias de menina ainda guardam.
Cresci, mas a minha admiração, por ti, não diminui!... 
... nem o Amor que te tenho!...






domingo, julho 31, 2016

Era assim o ALGARVE...


Era assim o nosso Algarve há 100 anos, (conforme link abaixo) e também há 50 anos, bem me lembro... Algumas destas vivências ainda as recordo dos tempos de férias em casa dos meus avós maternos e paternos. Não só os meus bisavós e avós viveram sempre "neste Algarve" como também muitos de nós ainda o vivemos e o podemos recordar.
É para mim um grande privilégio ter nascido numa destas casas, de ter avós que íam à feira de burro, de ter comido o pão cozido num forno mandado construir por 5 famílias vizinhas, esse maravilhoso pão que durava 8 dias dentro de uma arca tapado com um tendal, de ter comido com garfos de ferro, ainda hoje guardo alguns, de ter comido excelentes almoços e jantares cozinhados, em panelas de barro, por horas a fio, em fogo de chão... e tantos outros modos de viver aqui descritos.
Veio-me agora à memória a chegada do "almocreve", ao Monte, que trazia o peixe do litoral e regressava com os ovos e o mel da serra... uma dúzia de ovos em troca de um quarteirão de sardinhas... a troca directa de produtos durou até à minha meninice, na serra algarvia. Parece que vejo a minha avó com os ovos no regaço para dar ao homem e o alguidar de barro na mão, para receber as sardinhas...
Quanta beleza havia nesse Algarve, na simplicidade das gentes, na riqueza do mar, que nos dava o peixe e o sal. e em tudo o que a terra dava...
Poderia acrescentar muito, a este estudo, na primeira pessoa. Felizmente guardo essas vivências, nas minhas memórias de menina. Também estou grata pelo que fomos conseguindo mudar para melhor... porque a vida dos meus avós foi dura. Trabalhavam de sol a sol, nas suas terras, o que já foi muito bom.

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