Na sequência de uma entrada que postei em tempos, o João - o meu amigo Poeta, brindou-me com estas lindas quadras, alusivas a essa exposição de barcos que sulcaram as águas do baixo Guadiana até finais dos anos sessenta, entre Mértola e Vila Real de Santo António.
A ver Navios!...
Tantos navios, que espanto,
Em tempos que já lá vão;
Ainda são hoje um encanto
Apenas na exposição!
Do primeiro, o Alcoutim,
Corre lá para emendares,
Põe lá “escaleres”, isso sim,
Em vez dos tais “ escalares “….
De Mértola, o “ Guadiana”
De carreira pontual,
Como que uma caravana,
Ia até Vila Real…
Hoje fiquei a saber,
Esta palavra: “ tresmalhos “
Pescava-se, está-se a ver,
Com as tais malhas e tralhos…
“Alforques”, o que seria?
Termo náutico, por certo,
Se é uma palavra algarvia
Só se usava ali por perto!
No “Carla” explicas bem,
Mas vê lá no que te metes,
Pois no “ Célia” também
As mesmas coisas repetes…
A “ Dora” era uma “ pateira”
Pois tinha menor “ calado”
A “ Nusca” era uma “bateira”,
“ Chata “ de casco achatado?!
O “Loulé”de Pomarão,
Andaria num vaivém
Hoje não há precisão
Há uma ponte, e ainda bem.
Havia o “ Guarda-Fiscal”
Que lá ia patrulhando,
A via fluvial
Por causa do contrabando!
Estava a “ Maria Balbina”
Que era uma canoa ou “ buque”
Que tinha vela latina,
Para o vento um velho truque.
Havia também o “Rafa”
Ainda nessas alturas, -
E que levava uma estafa
A transportar as verduras.
Vinha o “Rodrigo”, ou seja,
“Palangres” pesca ao anzol,
Com vento era à “ carangueja”
Se não – remadores de escol!
Vem depois o “ Romanita “
Nesta lista, bem no meio,
Vela latina, bonita,
Que era o barco de correio.
“Lucília”, ao que quis parecer,
Era uma lancha com arte;
“Pesca rede da colher”
Não havia noutra parte!
“ Paula “ de vela latina,
Levava toda a semana,
Gente e coisas, por rotina,
Lá no baixo Guadiana.
Eu de velas já estou farto,
Mas p’ra transporte a granel
Era o tal “Buque”– o “ Lagarto”
Do Sr. Henrique Miguel.
O Manuel Rocha quis ter,
Outro de vela latina,
Com o nome da mulher,
A “Maria Alexandrina”.
E para “pesca ao candeio”
Para a tainha “ alvorar “
Os do “ Lino “ sem receio,
Espetavam-lhe o “ Chalavar”.
O “ Boa Esperança “, outro “buque”,
Para o dono era um tesouro,
Pôs-lhe seu nome, sem truque,
O Esperança de Almada de Ouro.
A remo ou “ à carangueija”
Era o “ Zé Marujo “ assim,
Vende peixe a quem deseja,
Vindo de Castro Marim!
O “ Pé Leve “ – tapa esteiros,
Nas águas das enseadas,
Com os peixes prisioneiros,
Enchiam-se as cabazadas.
Ó “ Campino “ ainda perduras,
Apesar de hoje haver ponte?
Levas gente e viaturas,
Ainda para Ayamonte?
E para o cerco à sardinha
Existia o “ Agadão “,
Metia muita gentinha
Que era um grande “galeão”.
“ Paulo Mira “ – o “enviado”.
Pois fazia a ligação,
Descarregando o pescado
Que vinha no galeão.
O “ Jorge “ outro galeão,
No arrasto utilizado,
Ficou a ser arrastão,
Por “chatas” auxiliado.
Era um “ xaveco”, o “Nordeste”
Barca com poucos a bordo,
Mais usado no sudeste
Nas praias do Monte Gordo.
Boa amiga, onde aprendeste?
Deste outro erro infeliz,
- Arte “chávega” escreveste,
Mas vai ver, pois é com XIS.
“ Escalares”, para apoiar,
Já disse que é outro erro,
Para “ escaleres “ vai mudar,
Caso contrário, ainda berro!
Finalmente estão as “chatas”
Também ditas de “ bateiras”
Só não quero que me batas,
Por te emendar nas asneiras!
“S. Macário”, triste sina,
Na canção não se salvou…
E o “ Maria Cristina”
Sem as Minas, acabou!
Também eu vou terminar
Esta tremenda empreitada;
Foi só p’ra te contentar,
Não vai servir p’ra mais nada!
Gosto de bom Português
E por isso aqui me bato,
Não vás dizer desta vez
Que também eu sou um “ chato “…
Um beijo minha querida amiga
João
Bem hajas pela tua amizade e carinho e também por gostares da minha terra.
Obrigado/ Odilia
http://robinsoncrosoe.spaces.live.com
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