sexta-feira, outubro 31, 2008

A guerra colonial...


  

A Guerra Colonial marcou muito a minha juventude...
Naquela época, quem partia levava saudades de quem ficava e quem ficava consumia-se de saudade e de medo.
Muitos pais perderam os seus filhos em terras de África- Angola, Moçambique, Guiné -, muitas esposas perderam os seus maridos, muitas jovens perderam os seus irmãos, afilhados de guerra, namorados...

Ao cimo da minha rua ficavam os CORREIOS e o Carteiro trazia as cartas e os aerogramas rua abaixo e perguntava-me:
_Queres mais Afilhados de guerra?... e eu escolhia-os pela letra...
Os Sargentos e Oficiais escreviam em cartas e as Praças em aerogramas. Entende-se o porquê, pois o aerograma custava $20 e o selo 2$50.
Endereçavam assim: 'Sr. Carteiro entregue à menina mais bonita que encontrar... entregue à primeira jovem que encontrar, etc...'
Eu era o filtro e, só passavam além de mim, os que tinham a letra feia...

Tive o meu namorado na Guiné e vários afilhados nas 3 zonas de guerra. Ao namorado escrevia todos os dias e aos afilhados sempre que possivel, mas no minimo 2 ou 3vezes por semana. Sabíamos o quão importantes eram para eles as nossas cartas, sabíamos quão grande era a decepção e a tristeza se o seu nome não era proferido na hora da distribuição do correio. Era tão pouco e significava tanto para eles...
"Angola é nossa
Angola é nossa,
Angola é nossa..."
Isto era o refrão de uma música interpretada pelo Coro e Orquestra da Fundação Nacional para a Alegria no Trabalho (F.N.A.T.)
Lembro-me de ouvir isto e sempre ouvia a minha mãe falar entre dentes:
_A parte que eu lá tenho, dispenso-a.
O meu irmão nasceu aquando do inicio da guerra e era um rapaz... e ela tinha muito, muito medo que a guerra se prolongasse no tempo!!!

Quando ouço os saudosistas apelarem ao 24 de abril, ainda sinto um misto de desconforto e de raiva. Eu sou saudosista dos nossos jovens militares que partiram cheios de esperança no regresso e não voltaram com vida ou voltaram feridos, estropiados ou tão abalados emocionalmente que nunca conseguiram recuperar. Sinto saudades das lágrimas misturadas com sorrisos, que retenho na memória, aquando da partida, sorrisos que queria rever e que não aconteceram.
Tambem vivemos o nosso lado da guerra, eu e todas as jovens da minha terra.
Perdemos familiares, amigos e namorados...
A todos dedico este escrito de SAUDADE!...

quinta-feira, outubro 30, 2008

Algarve - ALCOUTIM - Beira Baixa


ALCOUTIM para mim era única. Só havia uma terra com este nome e era a minha. Eis senão quando, num passeio de Abrantes à Sertã, encontro outra Alcoutim. Olho para a placa, poso para a foto e, não resisto, vou até lá.
Nos três carros que me acompanham, só eu me identifico com aquele nome no entanto, todos sabem porque quero lá ir...
Chegamos e fico olhando num misto de admiração e encanto, aquele pequeno lugar de pouco mais de uma vintena de casas. Apenas uma rua que subimos em fila. No cimo, paramos. Aparece o Sr. Manuel Antunes de oitenta anos seguido, de perto, pela esposa.
A porta da adega abre-se logo para os homens e às senhoras recomenda-se a habitação. Pela porta entreaberta podemos ver as paredes cobertas de calendários e logo percebemos...Acabamos todos sentados na escadaria, bebendo e conversando, num alegre convívio que trouxe reminiscências do passado ao dono da casa.
Havia outra Alcoutim, ele sabia. Já lá tinha trabalhado perto, na ceifa do Alentejo quando era jovem. Tinha sido um " ratinho das Beiras ",como eram chamados pelas moçoilas alentejanas. Diziam elas que eles só comiam pão e queijo...
_Não gostavam de nós, os alentejanos. Eram tempos difìceis e nós íamos fazer baixar as jornas e tirar-lhes algum trabalho - dizia o sr. Manuel.
Nesse tempo, chegado que foi ao Alentejo, escreveu à namorada que ficara na terra. Essa primeira carta foi parar, imaginem, a Alcoutim do Algarve.
Assim, aprendeu que havendo outra, tinha que identificar melhor a sua:
Alcoutim ... da Cumeada - Sertã - Castelo Branco.
E nunca mais qualquer carta se perdeu!...

Hoje teria que ser assim:
Alcoutim
6100-352 CUMEADA

Do João Manuel, meu amigo POETA:

Pode haver outro Alcoutim
Se tu dizes, acredito,
Até mais perto de mim
Mas o teu... é mais bonito!

O da Beira, não conheço,
Mas no teu já lá passei;
A grande pena, confesso,
É que então...não te encontrei!

A vida prega partidas
E fico aqui a cismar...
Se numa das minhas idas
Não te irei lá encontrar!

O Mundo rola e rebola
Em constante rotação;
E tudo se desenrola
Mas sem estar na nossa mão!...

Se se encontra uma pessoa
Como tu, tão cativante,
a gente a vida abençoa
Por nos dar um diamante!

Parabéns a Alcoutim
Que afinal te viu nascer;
Só num lugar belo assim
Tu poderias crescer!

E a pureza que inspira
Essa terra linda e calma,
E que a gente admira
Na limpidez da tua alma.

http://robinsoncrosue.spaces.live.com
Obrigado pelo carinho, João.
Beijo

A LENDA da MOURA do CASTELO VELHO de ALCOUTIM

Junto a duas azinheiras que ainda existem perto do Castelo Velho, que foi em tempos uma antiga fortaleza islâmica, vive uma moura encantada, transformada em serpente que guarda um tesouro...
No tempo do Rei D.Sancho II (1240) o castelo terá sido conquistado aos mouros por D.Rui Gomes, de forma pacífica. Aí encontrou o ex-Alcaide mouro e a sua sobrinha Zuleima, prometida ao jovem mouro Hassan que fugira para não assistir à derrota.
D. Rui e Zuleima apaixonaram-se e foram felizes durante algum tempo. Certo dia, o cavaleiro português, convencido de que ía encontrar-se com um mensageiro do Rei, foi levado a uma emboscada e apunhalado pelo próprio Hassan.
O mouro levou Zuleima no seu cavalo e foi perseguido por quatro soldados. Os dois acabaram por ser mortos ao pé das duas azinheiras.
Ainda há quem ouça o soluçar da Moura Zuleima que por lá ficou encantada..., chorando o seu amado Rui. Conta-se que já foi vista, em noites de lua cheia, em cima da azinheira, penteando os seus longos cabelos...
Diz a lenda que o candidato a desencantador da bela Moura, terá que lá aparecer numa dessas noite de S. João, à meia noite - hora em que a Moura, se transforma em serpente e desce ao Rio.
Terá que ir armado apenas com um punhal e terá que acertar na enorme mancha negra que a serpente tem no dorso... aí sim, quebrar-se à o encantamento e, como recompensa, além do amor da bela Moura, terá também um tesouro... 

Obs: Esta lenda dá o nome a este Blogue.
Até aos meus 18 anos vivi nesta linda terra e sempre ouvi contar esta lenda.
Até hoje, ninguém se atreveu a desencantar a moura que por lá continua a chorar e a banhar-se no rio, em noites de S. João...