A Guerra Colonial marcou muito a minha juventude...
Naquela época, quem partia levava saudades de quem ficava e quem ficava consumia-se de saudade e de medo.
Muitos pais perderam os seus filhos em terras de África- Angola, Moçambique, Guiné -, muitas esposas perderam os seus maridos, muitas jovens perderam os seus irmãos, afilhados de guerra, namorados...
Ao cimo da minha rua ficavam os CORREIOS e o Carteiro trazia as cartas e os aerogramas rua abaixo e perguntava-me:
_Queres mais Afilhados de guerra?... e eu escolhia-os pela letra...
Os Sargentos e Oficiais escreviam em cartas e as Praças em aerogramas. Entende-se o porquê, pois o aerograma custava $20 e o selo 2$50.
Endereçavam assim: 'Sr. Carteiro entregue à menina mais bonita que encontrar... entregue à primeira jovem que encontrar, etc...'
Eu era o filtro e, só passavam além de mim, os que tinham a letra feia...
Tive o meu namorado na Guiné e vários afilhados nas 3 zonas de guerra. Ao namorado escrevia todos os dias e aos afilhados sempre que possivel, mas no minimo 2 ou 3vezes por semana. Sabíamos o quão importantes eram para eles as nossas cartas, sabíamos quão grande era a decepção e a tristeza se o seu nome não era proferido na hora da distribuição do correio. Era tão pouco e significava tanto para eles...
"Angola é nossa
Angola é nossa,
Angola é nossa..."
"Angola é nossa
Angola é nossa,
Angola é nossa..."
Isto era o refrão de uma música interpretada pelo Coro e Orquestra da Fundação Nacional para a Alegria no Trabalho (F.N.A.T.)
Lembro-me de ouvir isto e sempre ouvia a minha mãe falar entre dentes:
_A parte que eu lá tenho, dispenso-a.
O meu irmão nasceu aquando do inicio da guerra e era um rapaz... e ela tinha muito, muito medo que a guerra se prolongasse no tempo!!!
Quando ouço os saudosistas apelarem ao 24 de abril, ainda sinto um misto de desconforto e de raiva. Eu sou saudosista dos nossos jovens militares que partiram cheios de esperança no regresso e não voltaram com vida ou voltaram feridos, estropiados ou tão abalados emocionalmente que nunca conseguiram recuperar. Sinto saudades das lágrimas misturadas com sorrisos, que retenho na memória, aquando da partida, sorrisos que queria rever e que não aconteceram.
Tambem vivemos o nosso lado da guerra, eu e todas as jovens da minha terra.
Perdemos familiares, amigos e namorados...
A todos dedico este escrito de SAUDADE!...
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