quinta-feira, março 29, 2012

AMIGOS " Pró Futuro de Alcoutim",

De acordo com o censo de 2011, o concelho de Alcoutim perdeu um quarto da sua população nos ultimos 10 anos. Perante este facto, um grupo de amigos decidiu juntar-se e criar o grupo "Pró Futuro de Alcoutim", com o objectivo de lançar um conjunto de iniciativas que possam ajudar a promover o município, um dos mais pobres do país e alterar a tendênca verificada nos últimos anos.
 
O ex-deputado e escritor Carlos Brito, a escritora e professora jubilada Teresa Rita Lopes, bem como o Jornalista Mário Zambujal são alguns dos nomes que integram aquele movimento, aos quais se juntou o médico e autarca Francisco Amaral, entre outros, naturais e amigos de Alcoutim, das mais variadas áreas profissionais.
 
Diz Carlos Brito:
" Procuraremos apoiar tudo o que for positivo para Alcoutim e preparamo-nos também para enfrentar e protestar contra tudo o que for contrário aos interesses do concelho. E neste período de austeridade tão agravada, certamente vamos ter muita coisa que fazer.
Outra prioridade é incentivar o investimento em áreas que possam ajudar a fixar e, até mesmo, atrair população. Queremos sensibilizar os investidores para que invistam nestas terras, que têm estado abandonadas, mas têm muitas potencialidades."
 
E, como a força de vontade move montanhas, vamos lá...
 

quinta-feira, março 15, 2012

Ferrarias (Vaqueiros) - As minhas raízes estão lá...




Ferrarias - vista parcial

Ferrarias é um pequeno " monte", onde nasceu a minha mãe e, sempre viveram os meus avós maternos. Naquela época, só lá moravam 7 familias, mas eram famílias de muitos filhos e era um monte animado, contava-me ela.
Os residentes dedicavam-se à agricultura e à pastorícia em moldes de subsistência. Os meus avós tinham 3 filhas e 2 filhos. Elas ficaram no monte até casar e todas fugiram aos trabalhos do campo. Rumaram à vila e a Lisboa e os meus tios ingressaram na GNR, o que acontecia com os rapazes daquela época, que queriam fugir ao campo... Os meus avós talvez tivessem ficado tristes por perderem assim os continuadores do seu trabalho, mas nunca se manifestaram nem eu entendi isso.
As férias no monte eram uma maravilha!!!
Os meus primos também lá estavam e aquela liberdade toda era o mundo de que eu precisava para ser feliz.  Os brinquedos não eram muitos, aliás eram pouquíssimos. Tínhamos uma arte especial para os fazer e inventávamos brincadeiras e participávamos em aventuras, sem fim.
Os Invernos daqueles anos eram de muita chuva e os ribeiros ainda corriam, corriam Primavera adentro… O calor chegava cedo e convidava às saídas pelos campos pintalgados de flores amarelas, brancas e lilázes. O barranco que corria a 200 metros de casa e, cujo caminho para o Cercado o atravessava, foi palco das mais diversas brincadeiras. Não havia perigo, eram ribeiros pequenos e sem grandes pegos, naquela zona. A caminho da Eira havia outro ribeiro, mais perto de casa. Ainda ouço o barulho da água a correr, calmamente...
Estive há 2 meses nessa horta dos meus avós ladeada por este ribeiro. Achei falta da avenca que crescia no poço…secou, faltou-lhe a água que a toda a hora caía do caldeirão e regava as paredes do poço. Achei falta dos enormes plátanos que ladeavam o ribeiro …
 A horta, sempre verdejante, é hoje terra solta que nem a chuva de Inverno rega.
As casas envelhecem de tristeza e de saudade dos tempos áureos do monte e das gentes que nele viviam. 
Entrei na casa do fogo e fui ao quarto, onde em menina vi uma serpente enrolada debaixo de uma cadeira… Sempre me acusaram de estar a mentir, mas eu sei que não menti. Hoje acredito que, não aceitando a minha verdade, estavam a fazer-me acreditar que não tinha visto nada para não contagiar os outros com o medo que me fazia tremer as pernas franzinas…Avós são gente sábia!...
 Parte do telhado já caíu… olhei a “noiva” junto ao 'fogo de chão' onde gostava de me sentar e visualizei o meu avô Palma com os netos à volta... Quase consigo ouvi-lo : “Toca, toca pastorzinho toca, toca com vigor…” do conto do Pastor e da flauta que ele nos contava, ao serão. Com um misto de dor e de saudade lá fui eu seguindo a minha “romaria”… agora ao Cercado apanhar as azeitonas para a conserva, pois foi para isso que lá fui... é um terreno com muitas oliveiras que carregam e sempre deram azeite para a casa do meu avô.
Dá pena... só apanhamos as que queremos para conserva, porque o azeite compramos no supermercado. Crime!!! pois, claro.
Fica a 5 minutos do monte, bom caminho e lá perto fica a velha Mina da Cova dos Mouros. Teminada a azáfama das azeitonas, subi o caminho que me leva à Mina - uma horta rica outrora, que ganhou o nome da vizinha mina. Nesta horta nunca faltava a água, sempre a correr o ano inteiro…hoje crescem por lá tantas estevas, quase tão altas como eu, de tal modo que nem consegui coragem para avançar...  atemorizam-me as cobras!…
Desisti algo frustrada, porque gostaria de ter ido a esta horta. Subi a ladeira, atirei pedras ao Poço do Malacate, de longe, como dantes fazia, porque sempre nos chamaram a atenção para o perigo. A pedra ía batendo e fazendo um barulho seco nas paredes do poço, demorava a chegar ao fundo e, em silêncio, aguardávamos  o chap, chap, chap… metia respeito a miúdos e graúdos.
Através deste poço eram escoados os produtos da exploração da Mina da Cova dos Mouros, por meio da uma galeira transversal principal.
Recordações que doem...

 O primo Zé é o único residente no monte. terá uns 80 e tantos... Os anos não perdoam, tem sido uma vida de trabalho e solidão... Vai fazendo a sua vida - criando os animais, plantando umas coisitas, cuidando  e alimentando os burros, avestruzes, corças e veados - que a Cova dos Mouros lá continua a manter.
Os Domingos são sagrados para ele e o programa é sempre igual.  Mal se levanta dá de comer aos animais, toma o seu banho, barbeia-se, perfuma-se e mete-se à estrada rumo à aldeia onde convive com os conhecidos e almoça num dos resturante da terra.
Se ele não aparecer ao domingo, há-de ir gente ao monte. O normal é aquele passeio domingueiro e, não indo, o caso é sério...e preocupante!...


Sobre as Ferrarias e a sua mina.

No Blogue Alcoutim livre, pode ler-se:

Feira do Pão Quente e Queijo Fresco. / Algarve Nordeste

A aldeia de Vaqueiros - freguesia a que pertence Ferrarias, o monte onde a minha mãe nasceu, recebeu este domingo centenas de visitantes para a Feira do Pão Quente e Queijo Fresco.
Desde há 14 anos que se realiza esta Feira que a cada ano tem vindo a crescer, sendo, segundo a Câmara Municipal de Alcoutim um dos maiores eventos do concelho.


O pão, sendo o produto de eleição, e talvez por isso, é vendido a um preço muito alto. Ouvi diversas pessoas comentarem o preço do pão. A situação ecnómica do país está complicada e acho que as pessoas vendem caro, porque vendem pouco e como tal, não sao meiguinhas a pedir dinheiro. Isso faz com que os visitantes pensem 2x no acto da compra ou até nem comprem. A vida custa a todos e encher o depósito de combustível para lá ir "já dói bastante", enfim...
O que eu acho é que poderiam vender mais, ganhando menos e, feitas as contas, teriam mais dinheiro ao fim do dia...mas isto é o que eu acho.
Além do pão, o queijo fresco, os doces tradicionais - lá estavam as saborosas  filhós da minha amiga de infância a Maria Deonilde e os excelentes enchidos da serra também marcaram presença. 
As feiras são, como já foram no tempo do grande incentivador das feiras e mercados regionais - El-Rei D. Dinis,  grandes dinamizadoras da economia local. Os produtores apresentam os seus produtos e os visitantes compram e degustam sabores divinos....que são os sabores antigos das nossas memórias.
Relembramos assim, os nossos familiares que lá nasceram e viveram em tempos idos...
Activamos as nossas memórias mais recônditas que afloram em "flashbacks" ao nosso pensamento. Lembramo-nos do privilégio que foi vermos as nossas avós fazerem o pão e podermos comê-lo quentinho saido do forno. Vem-nos a água à boca, o sabor às papilas gustativas -  que ricas e saborosas costas de massa sovada com café de cafeteira feito e mantido quente no fogo de lenha!... Pelas narinas sobe o cheirinho do chouriço e... que rico chouriço que o avô assava na brasa - o daquele porco que vimos crescer na pocilga e que ajudávamos a alimentar com os vegetais excedentes da horta, farelos, figos de tuna, bagaço das azeitonas.... e, por acréscimo, relembramos tb o horror daqueles grunhidos de aflição e dor no dia das matanças...
Mas...continuando...Tenho uma história dolorosa... sobre esta feira.
Há 4 anos quando lá fui pela primeira vez, vi uma cesta cheia de batatas doces assadas, lindas e apetitosas, grandes.... Estavam ali a olhar para mim. A fome já se fazia sentir e comprei 8... lanchei batatas, jantei batatas, ceei batatas... Resultado - uma enormíssima dor de estômago. O problema não foi das batatas doces assadas, está-se mesmo a ver. Eu, simples mortal e pecadora q.b. sei que cometi um grande pecado mortal chamado Gula... mea culpa!...
A minha avó Palma , se fosse viva, diria: Levam-te os olhos mais do que a barriga, filha...(eu era neta, mas ela chamava-me filha, nunca entendi, mas hoje que sou avó, já entendo: ser avó é ser mãe 2x...)

Sempre que participo nestas feiras de sabores tenho saudades daquele reboliço  das feiras antigas, saudades dos ruídos que lhes eram caracteristicos...Saudades do relinchar dos cavalos, do grasnar dos patos, do grunhir dos porcos, do zurrar dos burros, do cacarejar das galinhas, do grugulejar dos perus, do balido dos cordeiros...
Saudades das feiras antigas  em todo o seu esplendor.  Éramos miudos e vivíamos tudo aquilo intensamente!!! Desde o raiar do dia...
Eram outras feiras...
Fotos da CMA.