quinta-feira, março 15, 2012

Feira do Pão Quente e Queijo Fresco. / Algarve Nordeste

A aldeia de Vaqueiros - freguesia a que pertence Ferrarias, o monte onde a minha mãe nasceu, recebeu este domingo centenas de visitantes para a Feira do Pão Quente e Queijo Fresco.
Desde há 14 anos que se realiza esta Feira que a cada ano tem vindo a crescer, sendo, segundo a Câmara Municipal de Alcoutim um dos maiores eventos do concelho.


O pão, sendo o produto de eleição, e talvez por isso, é vendido a um preço muito alto. Ouvi diversas pessoas comentarem o preço do pão. A situação ecnómica do país está complicada e acho que as pessoas vendem caro, porque vendem pouco e como tal, não sao meiguinhas a pedir dinheiro. Isso faz com que os visitantes pensem 2x no acto da compra ou até nem comprem. A vida custa a todos e encher o depósito de combustível para lá ir "já dói bastante", enfim...
O que eu acho é que poderiam vender mais, ganhando menos e, feitas as contas, teriam mais dinheiro ao fim do dia...mas isto é o que eu acho.
Além do pão, o queijo fresco, os doces tradicionais - lá estavam as saborosas  filhós da minha amiga de infância a Maria Deonilde e os excelentes enchidos da serra também marcaram presença. 
As feiras são, como já foram no tempo do grande incentivador das feiras e mercados regionais - El-Rei D. Dinis,  grandes dinamizadoras da economia local. Os produtores apresentam os seus produtos e os visitantes compram e degustam sabores divinos....que são os sabores antigos das nossas memórias.
Relembramos assim, os nossos familiares que lá nasceram e viveram em tempos idos...
Activamos as nossas memórias mais recônditas que afloram em "flashbacks" ao nosso pensamento. Lembramo-nos do privilégio que foi vermos as nossas avós fazerem o pão e podermos comê-lo quentinho saido do forno. Vem-nos a água à boca, o sabor às papilas gustativas -  que ricas e saborosas costas de massa sovada com café de cafeteira feito e mantido quente no fogo de lenha!... Pelas narinas sobe o cheirinho do chouriço e... que rico chouriço que o avô assava na brasa - o daquele porco que vimos crescer na pocilga e que ajudávamos a alimentar com os vegetais excedentes da horta, farelos, figos de tuna, bagaço das azeitonas.... e, por acréscimo, relembramos tb o horror daqueles grunhidos de aflição e dor no dia das matanças...
Mas...continuando...Tenho uma história dolorosa... sobre esta feira.
Há 4 anos quando lá fui pela primeira vez, vi uma cesta cheia de batatas doces assadas, lindas e apetitosas, grandes.... Estavam ali a olhar para mim. A fome já se fazia sentir e comprei 8... lanchei batatas, jantei batatas, ceei batatas... Resultado - uma enormíssima dor de estômago. O problema não foi das batatas doces assadas, está-se mesmo a ver. Eu, simples mortal e pecadora q.b. sei que cometi um grande pecado mortal chamado Gula... mea culpa!...
A minha avó Palma , se fosse viva, diria: Levam-te os olhos mais do que a barriga, filha...(eu era neta, mas ela chamava-me filha, nunca entendi, mas hoje que sou avó, já entendo: ser avó é ser mãe 2x...)

Sempre que participo nestas feiras de sabores tenho saudades daquele reboliço  das feiras antigas, saudades dos ruídos que lhes eram caracteristicos...Saudades do relinchar dos cavalos, do grasnar dos patos, do grunhir dos porcos, do zurrar dos burros, do cacarejar das galinhas, do grugulejar dos perus, do balido dos cordeiros...
Saudades das feiras antigas  em todo o seu esplendor.  Éramos miudos e vivíamos tudo aquilo intensamente!!! Desde o raiar do dia...
Eram outras feiras...
Fotos da CMA.

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